Isaque Campelo, 1971

Passam alguns minutos das 18 horas e constato que entrar em casa do Isaque é como entrar na minha própria casa. As casas são, de facto, idênticas. Moramos na mesma rua, a menos de vinte metros de distância. Todavia, a sensação de familiaridade que sinto ao cruzar o seu portão azul deve-se igualmente à simpatia do próprio Isaque, da mulher e dos filhos, que nos recebem sempre com muitos sorrisos.

Apesar de sermos vizinhos, apenas começámos a falar em 2012 ou 2013. Por coincidência, numa sexta-feira à noite, encontrámo-nos num elevador do El Corte Inglés, em Gaia. Eu ia disfrutar de um jantar com vinhos Campolargo. O Isaque ia para o mesmo jantar (mas em trabalho). Desde então, muitas têm sido as aventuras que partilhámos: jantares, provas de vinho, visitas a Melgaço em busca de Alvarinhos.

Sei que o Isaque é Gestor Comercial na distribuidora Sotavinhos. Sei, igualmente, que o Isaque produz os seus próprios vinhos com a casta Loureiro: Quinta do Regainho, Vinhas Baixas e Moinho Velho. No entanto, há muitas outras informações que desconheço. Como e onde é que o Isaque começou? Qual o vinho que mais gostou de beber? Estas e outras questões serão respondidas durante a conversa que irá prolongar-se pela noite fora, jantar incluído.

Não há dúvidas, Isaque Campelo é um homem do vinho. Começou a trabalhar na empresa do pai, os vinhos Campelo, em 1994. Dez anos depois, em 2004, mudou-se para a Sotavinhos. Nesta empresa, como gestor comercial, gere a distribuição dos vinhos em cadeias de super/hipermercado, garrafeiras, restauração. O portefólio é extenso, mas deixo algumas referências: Vallegre, Kopke, Quinta do Regueiro, Sovibor, Campolargo, Adega do Redondo (incluindo o sucesso comercial Porta da Ravessa).

Apesar deste currículo invejável, o Isaque diz que havia pessoas melhores para eu entrevistar. Não é falsa modéstia, apenas uma timidez que eu muito aprecio. Daí que só hoje tenha ficado a saber que o Isaque possui vinte hectares de Loureiro, um hectare de Alvarinho e (brevemente) três de Arinto. Da mesma forma, só hoje fiquei a saber que o Isaque já vendeu 130 mil garrafas dos seus vinhos. Outros gabar-se-iam sem que ninguém lhes perguntasse.

A campainha começa a tocar. Mais pessoas jantarão connosco. A Catarina tira fotografias ao Isaque que, como bom anfitrião, vai abrindo garrafas e trazendo comida para a mesa. Espera-nos uma noite longa: queijos, sardinhas, entrecosto. O meu pai ajudá-lo-á no grelhador. Os pimentos padrón são mesmo caseiros (e picam). Brinda-se com Alvarinho, Encruzado. Fala-se de vinho. Um dos melhores que o Isaque já bebeu é, segundo o próprio, um Herdade do Mouchão Tonel 3-4 2001. Na mesa não há Mouchão, mas há uma garrafa de tinto que nem é deste século. E embora não seja Natal, a noite terminará com bolo-rei da Petúlia e um último brinde de champagne.